ATA DA TRIGÉSIMA SEGUNDA SESSÃO SOLENE DA PRIMEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA TERCEIRA LEGISLATURA, EM 11-9-2001.

 


Aos onze dias do mês de setembro do ano dois mil e um, reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às dezenove horas e onze minutos, constatada a existência de quórum, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada a homenagear os cem anos de fundação da Editora Vozes, nos termos do Requerimento nº 101/01 (Processo nº 1683/01), de autoria do Vereador Adeli Sell. Compuseram a MESA: o Vereador Ervino Besson, 3º Secretário da Câmara Municipal de Porto Alegre, presidindo os trabalhos; o Senhor Lídio Peretti, Editor Cultural da Editora Vozes; o Vereador Adeli Sell, na ocasião, Secretário "ad hoc". A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, ouvirem a execução do Hino Nacional e, após, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Adeli Sell, em nome das Bancadas do PT, PDT, PTB, PL e PSB, prestou sua homenagem aos cem anos de existência da Editora Vozes, comentando aspectos históricos alusivos à fundação e desenvolvimento das atividades dessa Editora ao longo de sua existência e destacando a importância da escrita e da imprensa para a evolução da civilização moderna. O Vereador Antonio Hohlfeldt, em nome da Bancada do PSDB, saudou os diretores e funcionários da Editora Vozes pelo transcurso do seu centésimo aniversário, salientando a qualidade verificada no projeto editorial adotado pela Editora Vozes, expresso através de investimentos na publicação de livros e no estímulo à adoção de políticas de incentivo à leitura. O Vereador João Carlos Nedel, em nome da Bancada do PPB, cumprimentou o Vereador Adeli Sell pela oportunidade da proposição da presente homenagem e gizou a importância da presente solenidade, declarando ser a Editora Vozes "mais uma porta aberta da Igreja Católica para o ingresso do povo na senda da aproximação e da igualdade entre os homens". Em continuidade, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao Senhor Lídio Peretti, que agradeceu a homenagem hoje prestada pela Câmara Municipal de Porto Alegre à Editora Vozes, pelo seu centenário de fundação. Na ocasião, foram distribuídos aos presentes exemplares do livro "Cântico das Criaturas - Ecologia e Juventude do Mundo", do escritor Chico Alencar. Também, o Senhor Lídio Peretti procedeu à entrega, ao Senhor Presidente, de um exemplar do livro "Uma Vida Pelo Bom Livro - Centenário Editora Vozes". A seguir, o Senhor Presidente convidou os presentes para, em pé, ouvirem a execução do Hino Rio-Grandense e, nada mais havendo a tratar, agradeceu a presença de todos e declarou encerrados os trabalhos às dezenove horas e cinqüenta e nove minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Ervino Besson e secretariados pelo Vereador Adeli Sell, como Secretário "ad hoc". Do que eu, Adeli Sell, Secretário "ad hoc", determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pela Senhora 1ª Secretária e pelo Senhor Presidente.

 


O SR. PRESIDENTE (Ervino Besson): Estão abertos os trabalhos da presente Sessão Solene destinada a homenagear a passagem dos 100 anos da Editora Vozes.

Convidamos para compor a Mesa o Dr. Lídio Peretti, homenageado; o Ver. Adeli Sell, proponente desta Sessão Solene. Srs. Vereadores, representantes de entidades de classe, autoridades presentes, senhores da imprensa, senhoras e senhores.

Convidamos todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Nacional.

 

(Executa-se o Hino Nacional.)

 

O Ver. Adeli Sell, proponente desta Sessão Solene, está com a palavra pelas Bancadas do PT, PDT, PTB, PL e PSB.

 

O SR. ADELI SELL: Sr. Presidente, Srs. Vereadores; Sr. Lídio Peretti, representando a Editora Vozes, nossa homenageada; cidadãos e cidadãs de Porto Alegre. Hoje, inicialmente, eu pensava em traçar um pouco da história da Editora Vozes propriamente dita. Mas, neste momento em que o mundo é abalado pela barbárie, penso que é muito mais importante falarmos de um dos principais traços de civilização da humanidade: o livro. Afinal de contas, a Editora Vozes, quando foi fundada, há 100 anos, foi exatamente para colocar nas mãos de jovens, sem condições, os livros para o seu ensino e aprendizagem. Foi também assim, quando iniciou a revista, e eu tenho certeza de que foi em cada vez que um dos seus editores decidiu, com outros escritores, a publicação de livros. São exatamente os escritos... Foi a partir da invenção da própria imprensa, da impressão do Livro Santo editado, de todos aqueles livros que vieram depois e antes de Gutemberg, nas cópias, nas noites varadas de pessoas copiando o que outros pensaram, escreveram e disseram. Essa é a principal razão pela fundação, há 100 anos, da Editora Vozes e, neste 11 de setembro, quando somos abalados pela barbárie, pelo terror, pela desumanidade, é importante que nos lembremos de um dos principais traços de nossa civilização, que é a escrita, que é o livro, porque foi, exatamente – e muito mais -, através das publicações da Editora Vozes que, neste País, nós conseguimos ter acesso a publicações que nos fazem e nos fizeram mais humanos. Foram, sem dúvida nenhuma, nas várias edições de livros e nos debates da revista que discutimos o País, que discutimos a Filosofia, que discutimos a Ética, que aprendemos tantas e tantas coisas, e entramos em contato com tantos e bons pensadores desse País. Talvez, se não fosse a Editora Vozes, muitos desses pensadores não teriam espaço num outro tipo de editora que, muitas vezes, por injunções do próprio mercado, não faria esse tipo de publicação. Mas existe uma base filosófica que dá sustentação e que deu, sem dúvida nenhuma, os alicerces para a construção desta importante Editora no nosso País. Cem anos, 100 anos que a Vozes vêm construindo, neste País, aqueles elementos que eu considero fundantes para uma vida em harmonia, de respeito mútuo, de solidariedade, de introspeção sobre a vida. Acredito que, muitas vezes, graças a esse tipo de reflexão que se fez e se faz neste País, nós superamos os momentos também de terror, de angústia, de desespero para milhares de pessoas, porque, através do conhecimento, nós saímos, sem dúvida nenhuma, da barbárie. São as primeiras letras.

Eu me lembro um pouco da minha infância, quando comecei a pensar sobre a história da Editora Vozes; para quem foram dirigidas as suas primeiras publicações. Eu me lembro da minha casa, onde havia uma cartilha velha pertencente à minha mãe, que chegou a fazer o 3º ano primário. Lembro-me de um livro em alemão gótico, que era da minha avó, e também que o meu pai, de vez em quando, recebia, pelo correio, até hoje não sabe como, algumas edições do Reader’s Digest, que passava, com certo encanto, porque ele era analfabeto e queria que seus filhos fossem letrados. Eu tive a graça de fazer o curso de Letras, de ser professor de Literatura, professor de línguas e de ser um pequeníssimo e modesto livreiro desta Cidade. Sem dúvida nenhuma, foi o livro - a escrita - que me colocou no mundo da civilização. Foi pelas minhas leituras, de algumas madrugadas, que eu tive contato com várias edições da Editora Vozes, inclusive no meu curso de Letras, porque a Vozes, em bons momentos, editou vários e vários livros, Ver. Antonio Hohlfeldt, na área da Lingüística. Eu tenho certeza de que foi também - e é também - pelo livro, pela reflexão do que está escrito, é que nós vamos formando a nossa consciência, que vamos nos formando como pessoas mais conscientes e, sem dúvida nenhuma, através de muitas das boas leituras da Editora Vozes, nós nos tornamos mais tolerantes.

Tenho certeza de que, com a continuidade dessa Editora, com seu tipo de publicação, com a sua visão humanitária dos franciscanos e de todos aqueles que colaboram com ela, nós vamos formar neste País pessoas mais humanas, mais solidárias e mais tolerantes.

Eu gostaria que se somassem à Vozes outras editoras, e que nós tivéssemos muito mais condições neste País para que a população, de um modo geral, pudesse comprar livros, e que os governantes dos pequenos municípios, como também da minha cidade... Graças a Deus tivemos lá um médico que colocou todos os seus livros à disposição da municipalidade. Se não fosse isso eu não teria-me encantado com a Literatura, não teria-me tornado um apaixonado pelo livro e, sem dúvida nenhuma, eu não teria acesso à civilização.

Que os governantes, então, pensem muito e que adquiram livros para as suas bibliotecas. Que este País cresça em bibliotecas, que cresça com a aquisição de livros, e que os livros circulem. E que nós, também, Peretti, às vezes, deixemos de ser um pouco egoístas e mesquinhos, quando guardamos com tanto ardor alguns livros empoeirados nas nossas estantes e não os emprestamos. Eu tenho esse mérito - não sei se é mérito ou defeito -, de emprestar livros, e, às vezes, se perdem algumas coisas que eu gostaria de reler. Mas essa é a vida. A vida não pára, a vida não pode parar, e, sem dúvida nenhuma, por meio do livro, da leitura, da boa literatura, dos bons escritos e de uma editora como a Vozes e daquelas que se irmanam com essa concepção filosófica, nós vamos superar o terror, o medo e o desencanto que vimos hoje nas telas da televisão. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Ervino Besson): O Ver. Antonio Hohlfeldt está com a palavra e falará pela Bancada do PSDB.

 

O SR. ANTONIO HOHLFELDT: Sr. Presidente; meu prezado amigo Lídio Peretti, hoje, aqui, representando a Vozes e representando-a muito apropriadamente, porque o Lídio não apenas respondeu, ao longo de tantos anos, pela gerência da livraria local, como hoje responde por todos os projetos editoriais dessa instituição, para o nosso orgulho; meu prezado Ver. Adeli Sell, proponente; Ver. João Carlos Nedel, por parte de quem, hoje, um sobrinho me procurava, de manhã cedo, numa sala de aula no Colégio São Pedro para dizer que é sobrinho do Ver. João Carlos Nedel. E eu lhe respondi: “Bom, ainda bem que você lê tanto quanto o Vereador”; minha querida poeta Maria Carpi; prezado Uberlaine de Russo, escritor que nos dá o prazer de sua presença aqui.

É para nós, hoje, fazermos uma Sessão bonita e alegre, porque, afinal, 100 anos de uma editora no Brasil, evidentemente, é mais do que motivo de uma comemoração. Uma comemoração que hoje fazemos com a Vozes e espero, no ano que vem, poder fazer com a Editora FTD, Lídio. Não por casualidade, duas editoras ligadas à Igreja Católica.

Esta Sessão hoje é feita sobre um contraste terrível: um século da Editora Vozes, mais de vinte séculos de violências institucionalizadas. E outro contraste que me chama a atenção é o próprio nome de batismo dessa editora: “as vozes”. Boa parte do tempo, da história dessa Editora, as outras vozes, para plagiar o título de um livro lançado pela UNESCO, anos atrás, editado aqui no Brasil também pela Fundação Getúlio Vargas, quando se referia a todos àqueles segmentos mundiais, sobretudo no campo da comunicação, que nem sempre têm a possibilidade da expressão. Mas essas outras nossas vozes, hoje, confrontam com os gritos e os clamores que, ao longo de todo o dia, nós acompanhamos e talvez, mais do que nunca, o contraste da morte pela violência, morte absolutamente estúpida, na composição contrária da vida exatamente pela absoluta tolerância que essa Editora tem mostrado ao longo da sua história. Eu, por exemplo, posso dizer que sou filho da Vozes, talvez os primeiros livros, que eu lembro, foi exatamente o livro do Muniz Sodré, que por acaso é um autor que vocês estão lançando um novo livro, que é exatamente a Comunicação do Grotesco, um dos primeiros livros a fazer a análise crítica sobre televisão no Brasil, da Vozes.

Eu sou filho da Vozes, porque lembro ter descoberto as análises sobre poesia concreta e todas as novas tendências, na época, contemporâneos da poesia mundial e brasileira, nos anos 60, através da Revista de Cultura Vozes. Eu sou filho da Vozes na medida em que foi na Vozes que eu li Darci Ribeiro, foi na Vozes que eu li Nelson Werneck Sodré, foi na Vozes que eu li os artigos traduzidos da Revista da França, que abriram os novos caminhos das análises semióticas e lingüísticas dos anos 70 e 80. Foi na Vozes que nós lemos Jung. Foi na Vozes que pudemos refletir sobre os acontecimentos pré-1964, no livro do René Dreyfus, dentre tantos outros autores e tantos títulos que a Vozes fez questão de recordar numa pequena, numa singela exposição, que eu pude assistir na semana passada, no nosso Congresso de Comunicação lá em Campo Grande, um espaço que diz muito da Vozes, desde as folhinhas, dos calendários até a coragem de um projeto editorial que não titubeia em, por vezes, lançar volumes literalmente com milhares de páginas ou lançar obras que constituem coleções que igualmente juntam milhares de páginas, significa um investimento pesado num país com menos de quinhentas livrarias, num país com um mínimo de pessoas com a possibilidade efetiva de comprar livros e no apelo do Ver. Adeli Sell, num País onde a maioria dos governantes pensam que comprar livros não vale a pena e onde os nossos administradores e economistas catalogam livros como material permanente.

Portanto, toda a biblioteca que adquire livros e corre o risco de emprestá-los, e tiver esses livros gastos, não tem como repô-los facilmente, porque é material permanente, e depois o Tribunal de Contas vai incomodar, porque temos que fazer a substituição.

Por tudo isso, Lídio Peretti, e é difícil hoje falar mais do que isso, eu fiz questão de estar presente nesta Sessão, porque sou filho da Editora Vozes, no sentido da minha formação intelectual, como lembrava aqui o Ver. Adeli Sell, porque sou filho da Vozes no sentido de que a Vozes tem um papel fundamental neste País. Porque a Vozes, sobretudo, nos mostrou essa lição fantástica da tolerância das vozes no plural, não só numa linha, nos diferente discursos, desde em Patativa do Asaré(?), do Nordeste, com a sua poesia popular, quase analfabeta, até os livros de nível universitário, por vezes mais complexos que nos desafiam exatamente a pensar este mundo tão contraditório e, ao mesmo tempo, tão fascinante.

Por tudo isso, Lídio Peretti, transmita aos seus companheiros da Editora Vozes, de todo o Brasil, de todas as Livrarias Vozes, de todos os autores que se distribuem pela Editora Vozes, o nosso abraço. Esperemos que a Vozes possa ir adiante, que em um próximo aniversário nós não tenhamos esse contraste entre a morte e a vida como nós temos hoje. Parabéns. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Ervino Besson): O Ver. João Carlos Nedel está com a palavra, em nome da Bancada do PPB.

 

O SR. JOÃO CARLOS NEDEL: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda o componentes da Mesa e demais presentes.) “Um livro fechado é um amigo que espera. / Um livro aberto é um cérebro que fala. / Esquecido, uma alma que perdoa. Destruído, um coração que chora...”

Esse pensamento, rico em metáforas e amplo em abrangência, permite uma das mais interessantes avaliações axiológicas que conheço em torno do livro, transcendendo à imagem popular de que normalmente se reveste, para alargar-se à consideração metafísica e à construção poética.

“Oh, bendito o que semeia / Livros, livros à mancheia / E manda o povo pensar. / O livro, caindo, n’alma / É nuvem que faz a palma / É chuva que faz o mar.”

E os conhecidos versos de Castro Alves, com igual inspiração, bendizem com a ênfase dos convictos, a todos os que, com seu trabalho, tornam o livro acessível ao povo, permitindo-lhe abeberar-se direto na fonte de conhecimento, informação e cultura. Bendita, pois, a centenária Editora Vozes, a mais antiga casa-editora do Brasil em funcionamento, que hoje recebe a homenagem desta Casa, por iluminada iniciativa do nosso prezado colega Ver. Adeli Sell, a quem, calorosamente, cumprimento.

Benditos os dois entusiastas e persistentes frades franciscanos, Frei Inácio Hinte e Frei Ciríaco Hielscher, cuja visão progressista os impelia a buscarem fazer a impressão dos livros para a Escola Gratuita São José, fundada por sua Ordem Religiosa em 1897. Pois foi de seu esforço e denodo que nascia, a 5 de março de 1901, a Tipografia Escola Gratuita São José, cuja expansão foi rápida, pois os livros que produzia para seus alunos logo passaram a ser encomendados por várias outras escolas católicas.

Desde logo, o material didático produzido pela Vozes passou a desempenhar um papel de importância fundamental na vida do País, sendo grande seu relevo na resistência da Igreja Católica contra o crescente avanço da filosofia positivista naquela época.

A partir daí, o êxito levou à publicação de muitas outras obras destinadas ao poder público católico, entre elas a Revista Vozes de Petrópolis, graças ao sucesso obtido, acabou por dar, em 1911, a denominação que hoje a Editora tem.

Hoje, é inegável a relevância dos serviços que a Editora Vozes presta à cultura nacional, não apenas no campo religioso, mas igualmente nos campos da filosofia, da teologia e da psicologia, sobressaindo-se por sua linha editorial segura diversificada.

A Editora Vozes é, assim, mais uma porta aberta da Igreja Católica para o ingresso do povo na senda da aproximação e da igualdade entre os homens, confirmando sua vocação cristã de busca e realização do bem comum.

Em nome da Bancada do PPB - Partido Progressista Brasileiro, que tenho a honra de integrar, acompanhado dos Vereadores João Dib, Pedro Américo Leal e Beto Moesch, saúdo a Editora Vozes pelo seu centenário de fundação, cumprimentando também a todos os seus dirigentes e colaboradores pelo excelente trabalho até aqui realizado.

E peço a Deus Nosso Senhor que lhes dê a luz necessária para que prossigam nessa caminhada realizadora, dedicados ao crescimento da pessoa humana e fiéis à doutrina cristã. Assim seja. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Ervino Besson): O Sr. Lídio Peretti, editor da Editora Vozes, está com a palavra.

 

O SR. LÍDIO PERETTI: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) De fato, o dia de hoje nos enseja a uma reflexão mais profunda no sentido de retroceder 100 anos. Em 1901, a Congregação dos Frades Franciscanos se propõe a trabalhar a catequese e trabalhar a cultura utilizando o livro. Num gesto de valorizar o ato de ler, entendem que não conseguem evangelizar a colônia alemã, que estava em Petrópolis, na época, sem que com isso tivessem livros para ler. Entendem esse gesto, publicando livros para as primeiras leituras, não é por acaso que os primeiros livros da Vozes levam estes títulos: Meu Primeiro Livro de Leitura,  Meu Segundo Livro de Leitura e Livros para Aprender Aritmética. Entendem também os Frades que precisam elevar o nível cultural do seu povo. Criam, então, em 1907, a Revista de Cultura Vozes que, como vimos, foi ela que, no decorrer do tempo, deu o nome à Editora Vozes. Ela tem 93 anos e é uma das revistas culturais mais antigas do País.

De 1901 a 2001, uma vida pelo bom livro. Valorizando a leitura que a Vozes, ao longo do tempo, se destaca com leituras diferenciadas. A Vozes se aproxima ou acompanha os momentos da história brasileira. Se nós olharmos os anos 30, 40 e 50 da Vozes, percebemos que é uma editora com uma perspectiva de apologia. É Vozes em defesa da fé. Se nós recuarmos um pouco, percebemos que nos anos 60, 70 e 80, temos o Concílio Vaticano II, onde a Editora Vozes se destaca com suas publicações, trazendo para o Brasil e para a América Latina, quase que simultaneamente, os acontecimentos do Vaticano II. A proposta de João XXIII de abrir as portas e janelas da Igreja passa, também, pela Editora Vozes. Lembremos tão-somente de alguns Teólogos como Boaventura Kloppemburg, Luiz Barauna e Constantino Koser. Eram Frades do Instituto Teológico de Petrópolis, mas que estavam a serviço da Igreja no Concílio do Vaticano. Com isso, a Vozes abre os seus horizontes com publicações que, depois, dão origem a toda caminhada da Igreja brasileira e latino-americana que nós conhecemos, que é a Teologia da Libertação e sua caminhada.

É dessa época, desses anos, o período em que a Vozes, corajosamente, com outras editoras brasileiras, também faz uma leitura crítica ao regime militar e corajosamente publica livros que mostram que é possível fazer uma outra leitura ao regime. São dessa época livros como Brasil Nunca Mais e como o livro do René Dreyfus, que foi citado.

A Vozes também teve o seu “período de chumbo”, época de crises em que saem da Direção Frei Ludovico, Leonardo Boff e Rosemarien Muraro, o trio que dava sustentação de orientação para a linha da Editora Vozes. Nos anos 90, então, muda a Direção e mudam também algumas orientações na Editora Vozes.

Mas 2001, para nós, é um novo século, é o centenário da Vozes, e ao mesmo tempo percebemos que há uma retomada da Editora Vozes. E, corajosamente, os frades ratificam aquela caminhada dos anos 60, 70 e 80 e propõem, então, que o lema, a missão da Vozes novamente volte àquele espírito. E é nesse espírito que ela então se propõe a uma missão de captar e gerar idéias, que dentro de uma perspectiva crítica faça uma leitura social, política e educativa, que valorize o ser humano e o cidadão. Aí é que nasce toda uma perspectiva de publicações culturais. Cem anos, uma vida pelo bom livro.

Vozes está presente também aqui no Rio Grande do Sul, não poderiam os frades deixar de estarem presentes aqui neste Estado que teve, sem sombra de dúvida, uma das maiores editoras brasileiras, a Editora Globo. Sem sombra de dúvida é um Estado em que valora a educação num nível superior, com certeza, a outros Estados do Brasil. E é neste Estado que temos a Feira do Livro, que é um acontecimento de repercussão nacional e internacional. E este Estado que detém, para nós, na Editora Vozes, hoje, o terceiro lugar na produção e consumo de literatura. É um Estado que tem um grupo de editoras que têm uma vida local e nacional de uma qualidade invejável. É nesse contexto que Vozes não poderia deixar de estar presente. É nesse contexto que temos inúmeros autores que fazem parte e honram o nosso catálogo.

Em 1991, estivemos nesta Casa para receber uma homenagem semelhante, na época proposta pelo Ver. Antonio Hohlfeldt, quando completávamos 90 anos. Hoje, graças à iniciativa do Ver. Adeli Sell voltamos novamente a esta Casa, cujo gesto demonstra que o ato de ler é, sem sombra de dúvidas, o ato mais importante do ser humano, porque acreditamos que o livro constrói o ser humano, pois o livro é um poderoso instrumento de transformação, de educação e de formação do ser humano. Nós não compartilhamos com os arautos do fim do livro em que a leitura vai desaparecer. Pode mudar o suporte do livro, pode mudar a maneira como leremos os nossos textos futuramente, mas não desaparecerá a importância de ler, para o ser humano.

Agradeço ao Ver. Adeli Sell, agradeço aos senhores pela a presença, obrigado por tudo.

Nós, da Editora Vozes, queremos que os senhores levem uma pequena lembrança deste momento. O nosso pessoal vai entregar aos senhores um livro escrito por Chico de Alencar com o título Cântico das Criaturas - Ecologia e Juventude do Mundo. Pensamos que Vozes franciscanas e ecologia têm muito em comum e têm muito a ver com os dias de hoje. Deixamos para esta Casa o livro comemorando os 100 anos da Editora Vozes. É um livro que conta a história deste centenário. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Ervino Besson): Não temos dúvida de que esta Casa vai registrar este dia que ficará em sua história.

Em meu nome, em nome da Presidência desta Casa e em nome de todos os Vereadores, nós saudamos o Ver. Adeli Sell por esta brilhante iniciativa. Os freis franciscanos, há um século, tiveram a brilhante idéia de criar esta Editora que registra história deste País.

Conforme os Vereadores Adeli Sell, João Carlos Nedel e Antonio Hohlfeldt falaram da tribuna, o mundo hoje foi abalado com a tragédia nos Estados Unidos. Não temos dúvida de que essa tragédia vai ficar na história da população mundial. Se algumas dessas pessoas que tramaram esse acontecimento tivessem lido alguns livros desta Editora, com ensinamentos ao longo de um século, elas teriam uma outra idéia, uma outra formação, ao invés de preparar essa tragédia nos Estados Unidos. Pelas notícias, foram atingidas em torno de quarenta ou cinqüenta mil pessoas. Que tristeza para aquelas famílias, para aqueles inocentes que morreram pela falta de humanidade de algumas pessoas.

Ver. Adeli Sell, mais uma vez reconhecemos a sua brilhante idéia de homenagear a Editora. Cem anos é uma história, não é um dia, não é um ano, não são dez anos, é um século. A Editora, com seus livros, com seus trabalhos sempre procurou orientar as pessoas com suas publicações, nas leituras, para que a humanidade seguisse um caminho dentro de um espírito cristão.

Infelizmente, como já disseram, há pessoas com outros procedimentos e outras idéias nas suas cabeças. Graças a Deus, nós temos que dizer, hoje, aqui desta tribuna, nesta Casa do Povo, que ainda existem pessoas que pensam, que trabalham, como a Editora que publica os seus livros, enfim, que mostra o caminho da verdade.

Portanto, parabenizamos o Dr. Lídio Peretti. Receba desta Casa o nosso reconhecimento e o nosso abraço. Que Deus ilumine o caminho de cada um de vocês, que possam, cada vez mais, levar o nosso povo ao caminho que a humanidade tanto espera, que não é do sofrimento, não é do sangue e da barbárie que nós estamos acompanhando. A vida é assim, nem tudo está perdido. Vamos ter fé no nosso protetor lá de cima para que o mundo tome uma direção voltada ao espírito humano, respeitando o seu semelhante e não ceifando vidas como está acontecendo, esses brutais acontecimentos e assassinatos que também estão acontecendo em nosso País. É isso que pedimos.

Convidamos todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Rio-Grandense.

 

(Executa-se o Hino Rio-Grandense.)

 

O SR. PRESIDENTE (Ervino Besson): Estão encerrados os trabalhos da presente Sessão.

 

(Encerra-se a Sessão às 19h59min.)

 

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